domingo, 27 de maio de 2007

CEM PALAVRAS:VIVEREMOS?



A vida dos seres está presa à força da palavra, que dependendo de seu sentido, pode reverter qualquer sentimento ou situação.
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O poeta busca conhecer-se e aprofundar-se. O professor na escolha dos vocábulos, busca contribuir na formação das pessoas. O artista pinta, suaviza o cotidiano com a tinta e, no fim, assina. A criança balbucia, soletra, fala, descobre o mundo... O político discursa, encurta, encomprida, promete. O homem sonha, calunia, escuta, vence, é vencido, chora, ri, grita!!! Palavras, palavras, palavras... Que estranha força a vossa!

Mas a verdade é esta: todo o sentido da vida principia na audácia, na timidez, na entonação, na vibração, no retratar da ficção ou da realidade, da beleza ou da escuridão da palavra. Mas por quê? Porque ela inquieta, enche , preenche, esvazia, desvenda, inunda. É finda e infinda.

O que seria do mundo sem elas? A comunicação existiria? Sim!? Não!? Talvez.... sobrevivêssemos. Mas o que é melhor: sobreviver ou viver com autenticidade, intensidade, dizendo e realizando o que se pensa, o que se deseja, o que se acredita? É preferível amar sussurrando: “eu te amo!” ou amar mudo, gélido, sem vez e sem voz?

Sem respostas. É como comparar homens a cães sem pêlo; rios a uma espada longa e torpe. É como definir a morte: o abrigo que aloja a vida cheia de lamúrias, tristezas, derrotas e sofrimento.

Então, não vale a pena construir e reconstruir sem as palavras; porque sem elas nada nos dizem, nada nos falam. Nada. Nada. Nada...

Pensando, assim, a palavra torna-se indispensável, insubstituível. É, contudo, ilusão supor que a passagem do mudo mundo para o viva mundo possa processar-se sem ruptura, vicissitudes. Carlos Drummond de Andrade, do alto de sua simplicidade e sapiência, de sua diáfana visão garante que lutar com as palavras é a luta mais inútil; todavia, lutamos assim que a manhã se rompe.

Nessa perspectiva, lutemos. Fora, dentro. Com alguém. Ou sem ninguém. Pulemos de nosso interior e abandonemos o medo e a dúvida em busca do recorte de imagens, metáforas, vocábulos, mistérios...

Tentar entender-se e comunicar-se. Esse é o refrão, pois é assim que gira a humanidade. Movimento esse que se faz da fantasia para a concretude através da semente viva da palavra.

(SOUSA, Denise Dias de Carvalho. Cem palavras: viveremos?. In: Palavras para o coração: antologia literária. Rio de Janeiro: Litteris Editora,2005 )

Um comentário:

Naveletras disse...

Parabéns, Denise...

Um texto deste num concurso é uma covardia com os outros concorrentes... Estava claro que você iria ganhar...
"Cem palavras: Viveremos?" encheu meus olhos, do início ao fim. É o ponto de intersecção entre a poesia e a prosa, que poucos autores conseguem obter nos seus trabalhos. É realmente um texto para agradar, adorei.
beijos,

Jéssica