quinta-feira, 24 de julho de 2014

EU,CAROL E OS ROMANCES

Fonte:http://www.ruadireita.com/literatura/info/romances-para-sonhar/
Um dia inventei de viajar para Valença. Estava apaixonado por uma garota e tinha quase certeza de que ela estaria representando o coral do Colégio São Pedro, no encontro dos estudantes do ensino médio do Estado da Bahia.
Tratei de comprar minha passagem com antecedência para não ter a possibilidade de perder a chance de encontrá-la.
A semana parecia não ter fim: arrumei minha mochila umas seis vezes e não consegui me concentrar em nada, pois só ficava imaginando as situações que esse encontro poderia me favorecer.
Quando chegou o tão sonhado dia, eu estava bastante satisfeito. Comprei refrigerante, água, alguns salgados. Ao chegar à rodoviária, entrei rapidamente no ônibus. Verifiquei o número de minha poltrona e sentei.
Logo em seguida, percebi um livro na poltrona ao lado. Olhei para frente, para trás, mas não havia vestígios de ninguém. Parecia que eu era o primeiro a entrar. Então, pensei: “achado não é roubado”. E comecei a ler.
Por coincidência, o livro era um romance e contava a história de um amor impossível. Tentava me concentrar, mas sempre parava para pensar em Carol – esse era o nome da minha amada. Até porque a personagem principal se parecia com ela: olhos negros, um rebolado perturbador e um ar de encanto e mistério... Aquelas características apenas me confirmavam o quanto eu a admirava.
O par da protagonista também se parecia comigo: alto, magro e bastante apaixonado. E o enredo tinha tudo a ver com o nosso romance (que ousadia, caro leitor, eu nem sei se ela sabe que eu existo). Na história, mesmo sendo assediada por outros rapazes, a mocinha acabou ficando com seu par romântico.
Isso só nutriu mais a minha esperança. Só podia ser um sinal. Um sinal de que nosso romance iria transitar do imaginário para o real.
Passei a viagem toda lendo, que nem percebi quando o ônibus chegou.
Quando estava descendo, uma velhinha na minha frente me fez levar um tropeção. Foi uma atrapalhada só: mochila para um lado, livro para o outro.
 Decidi pegar primeiro o livro. Mas quando já estava chegando perto dele, vi que outra mão também fazia a mesma coisa.
Quando olhei, vi um rosto conhecido, que me disse:
_ Meu livro! Pensei que o havia perdido.
Eu, quase sem voz, indaguei:
_É seu, Carol?
_É. Ao entrar no ônibus, em Feira de Santana, fui logo ao banheiro. Quando voltei, não sabia mais onde estava sentada, nem tampouco que havia tirado meu livro da bolsa. Só depois que eu percebi a falta dele. Mas que bom que você o achou e guardou, pois este livro tem um valor bastante sentimental para mim.
Agora, sem voz de fato, perguntei:
_Sentimental?
_Sim, foi o Cláudio que me deu de presente no dia que começamos a namorar. Quer lê-lo?
Respondi-lhe que não gostava de ler romances. Eles só faziam nos iludir.
Sem entender muito a minha resposta, ela me interpelou:
_E você, veio também para participar do encontro dos estudantes? Se não tiver com quem sair à noite, pode nos acompanhar. Depois das apresentações, Cláudio e eu combinamos comer uma pizza.
Disse-lhe que não, pois estava ali apenas para marcar uma consulta médica para minha mãe e iria voltar naquela mesma manhã.
Depois desse dia, nunca mais acreditei em romances.


Autoria: DENISE DIAS DE CARVALHO SOUSA

Nenhum comentário: