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Um dia inventei de viajar para
Valença. Estava apaixonado por uma garota e tinha quase certeza de que ela
estaria representando o coral do Colégio São Pedro, no encontro dos estudantes do ensino médio do Estado da Bahia.
Tratei de comprar minha passagem com
antecedência para não ter a possibilidade de perder a chance de encontrá-la.
A semana parecia não ter fim: arrumei
minha mochila umas seis vezes e não consegui me concentrar em nada, pois só ficava
imaginando as situações que esse encontro poderia me favorecer.
Quando chegou o tão sonhado dia, eu
estava bastante satisfeito. Comprei refrigerante, água, alguns salgados. Ao
chegar à rodoviária, entrei rapidamente no ônibus. Verifiquei o número de minha
poltrona e sentei.
Logo em seguida, percebi um livro na
poltrona ao lado. Olhei para frente, para trás, mas não havia vestígios de
ninguém. Parecia que eu era o primeiro a entrar. Então, pensei: “achado não é
roubado”. E comecei a ler.
Por coincidência, o livro era um
romance e contava a história de um amor impossível. Tentava me concentrar, mas
sempre parava para pensar em Carol – esse era o nome da minha amada. Até porque
a personagem principal se parecia com ela: olhos negros, um rebolado
perturbador e um ar de encanto e mistério... Aquelas características apenas me
confirmavam o quanto eu a admirava.
O par da protagonista também se
parecia comigo: alto, magro e bastante apaixonado. E o enredo tinha tudo a ver
com o nosso romance (que ousadia, caro leitor, eu nem sei se ela sabe que eu
existo). Na história, mesmo sendo assediada por outros rapazes, a mocinha
acabou ficando com seu par romântico.
Isso só nutriu mais a minha esperança.
Só podia ser um sinal. Um sinal de que nosso romance iria transitar do imaginário
para o real.
Passei a viagem toda lendo, que
nem percebi quando o ônibus chegou.
Quando estava descendo, uma velhinha
na minha frente me fez levar um tropeção. Foi uma atrapalhada só: mochila para
um lado, livro para o outro.
Decidi pegar primeiro o livro. Mas quando já
estava chegando perto dele, vi que outra mão também fazia a mesma coisa.
Quando olhei, vi um rosto conhecido, que me disse:
_ Meu livro! Pensei que o havia
perdido.
Eu, quase sem voz, indaguei:
_É seu, Carol?
_É. Ao entrar no ônibus, em Feira de
Santana, fui logo ao banheiro. Quando voltei, não sabia mais onde estava
sentada, nem tampouco que havia tirado meu livro da bolsa. Só depois que eu
percebi a falta dele. Mas que bom que você o achou e guardou, pois este livro
tem um valor bastante sentimental para mim.
Agora, sem voz de fato, perguntei:
_Sentimental?
_Sim, foi o Cláudio que me deu de
presente no dia que começamos a namorar. Quer lê-lo?
Respondi-lhe que não gostava de ler romances. Eles só faziam nos iludir.
Sem entender muito a minha resposta, ela me interpelou:
_E você, veio também para participar
do encontro dos estudantes? Se não tiver com quem sair à noite, pode nos
acompanhar. Depois das apresentações, Cláudio e eu combinamos comer uma pizza.
Disse-lhe que não, pois estava ali
apenas para marcar uma consulta médica para minha mãe e iria voltar naquela
mesma manhã.
Depois desse dia, nunca mais
acreditei em romances.
Autoria: DENISE DIAS DE CARVALHO SOUSA