sábado, 15 de agosto de 2009

DETETIVE ÀS AVESSAS


Não consegui acreditar no que vi. Os quartos estavam trancados. Chamei por alguém, mas o silêncio continuou. A cozinha estava toda revirada. Panelas amassadas, pratos quebrados, talheres no chão, tudo em desordem. Ouvi um barulho de torneira aberta. O som vinha do banheiro. Parei um pouco. Senti um terrível calafrio. Achava que não deveria ir até lá. Mas a curiosidade misturada ao medo me fez mexer as pernas, que quando me dei conta, estava frente à porta.


Fui abrindo lentamente. Meus olhos piscavam. O suor escorria. Estava enrubescido. Criei coragem e puxei a cortina, que de tão velha despencou, levando-me ao chão molhado. Desliguei a torneira e enxuguei o rosto. Dei aquela risada amarela. Talvez se tivesse alguém por ali a cena fosse cômica. Como o momento era trágico, meu drama continuou.


Dessa vez resolvi ir à sala de estar. Queria ter certeza de que aquela situação era real. Novamente um barulho esquisito. Vinha do armário de louças. Pensei: “Deve ser um bichinho qualquer; não vou fazer papel de bobo mais uma vez”. Olhei atentamente o ambiente e não percebi nada fora do lugar. “Como é que pode! Quartos fechados, cozinha bagunçada e aqui nada de estranho!” – fiquei encabulado a imaginar o que podia estar acontecendo.


Não estava mais agüentando aquela situação tão misteriosa. Resolvi então ligar para a polícia. Não podia continuar dando uma de detetive. E se a casa tivesse sido roubada?E se o ladrão seqüestrara os moradores? Ou pior: se ele os tivesse matado? Cruz credo! Tentei tirar aquele pensamento negativo da minha mente. Peguei rapidamente o telefone, mas para minha decepção não funcionava. Só podia ter sido o larápio que fizera aquilo. Ele voltaria, então.


Comecei a preparar o arsenal de espera. Faca, machado, corda. Catei tudo que pudesse intimidá-lo. Quando voltasse iria ter uma surpresa nada agradável. Sentei-me numa cadeira da cozinha, assim ele não saberia da existência de alguém na casa. Passei tanto tempo sentado naquela cadeira que acabei pegando no sono. Só me dei conta disso quando ouvi um barulho vindo do quintal. Pensei: “É ele! Agora é minha vez! A vez da caça!”.


Andei bem devagar e com todo cuidado para não ser percebido, abri a porta de supetão. Os confeites atingiram meu rosto e um coro uníssono começou: “Parabéns pra você!”. Quando me refiz da cena, não consegui acreditar no que vi: meu pai, minha mãe, minha irmã e os amigos mais íntimos, todos rindo da minha cara de bobo por eu não ter lembrado do meu aniversário.


DENISE DIAS

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