Em uma terra distante morava um vendedor de histórias. Mas, ao contrário do que se imagina, ele não conseguia vender nenhuma de suas histórias.Chegava perto da menininha triste e dizia:
_ Eu conheço uma história de uma menina triste, que ficou contente quando encontrou amigos que compartilharam seus brinquedos e sua amizade. Quer comprar essa história?
- Não! - respondeu a garota.
Mais adiante encontrou o vendedor de leite e disse:
- Meu amigo, você que está aí sentado porque machucou o pé e não pode vender leite hoje, quer ouvir a história de um vendedor que machucou a mão, ficou uns dias sem vender e ao se recuperar vendeu o dobro do que vendia antes?
- Não! – respondeu o leiteiro.
Mas o vendedor de histórias não desistia:
-Dona Mariquinha, a senhora que está aí sentada na porta, sem nada fazer, quer ouvir a história da mulher que não trabalhava e por ficar na porta de sua casa conseguiu ajudar a muitos que ali passavam, dando, assim, sentido a sua vida sem graça?
-Não! – respondeu a senhora.
Como era muito perseverante, o vendedor de histórias continuou sua caminhada atrás de alguém que pudesse comprar suas histórias.
Andou mais um pouco e percebeu um aglomerado de pessoas ao redor de um teatro de rua.Parou para escutar o que estava contando o grupo mambembe. Percebeu que a encenação ao ar livre embevecia os ouvintes:
- E assim, depois que Isabel encontrou sua família ficou mais aliviada. Voltou a comer, a conversar, a brincar, a sorrir novamente. – finalizou a história, um dos artistas do teatro.
- Mas, se vocês pensam que parou por aí, não acabou não! Quando Isabel estava envolta de tanto contentamento, apareceu o Zé Assombração e...
Todos os presentes aplaudiram exaustivamente de pé, menos o vendedor de histórias, que aborrecido disse:
-Não gostei dessa história! Não tem final! Não se sabe o que vai acontecer com Isabel!
Um dos artistas sorridentemente replicou:
- Ora meu amigo, se contarmos o que vai acontecer com Isabel, onde você entra nessa história?
-Como assim? – indagou o vendedor.
-Quero dizer que, se contarmos tudo, roubaremos a sua imaginação. E a graça de uma história é justamente o jogo do mistério: pode ser isso, pode ser aquilo. – argumentou o artista.
O vendedor nada mais disse. Apenas pegou seu baú de histórias e saiu novamente a procurar compradores para elas.
Encontrou bem aquela menininha triste do começo da história:
-Ei, você não é aquela garota que eu encontrei dias atrás toda tristonha?
-Sim, sou eu. – respondeu prontamente a menina.
-Mas agora você está feliz, não é? – perguntou o vendedor.
-Sim, estou. Mas se alguém me contasse uma história interessante, eu ficaria mais contente ainda.
O vendedor de histórias pressentiu que aquela era a sua oportunidade:
-Eu vendo histórias, quer comprar uma?
-Não sei do que se trata. - redargüiu a menininha.
O vendedor orgulhosamente respondeu:
-Só lhe digo uma coisa: é uma história que tem circo e muito palhaço. E aí, quer comprar?
A menininha encheu-se de curiosidade, porque queria saber o que acontecia naquele circo e quais eram as piadas contadas pelos palhaços. Então, não perdeu tempo e respondeu:
-Claro que sim! Conta, conta, conta.
E foi assim, com muito saber e sabor, que o vendedor de histórias conseguiu vender sua primeira história.
Denise Dias de Carvalho Sousa
Publicado no site: O Melhor da Web em 06/01/2009
Código do Texto: 11103
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